1. IDENTIFICAÇÃO
Coordenador/orientador: Luís de Nazaré Viana Valente
Titulo do Projeto ao qual está vinculado o plano de trabalho: O oral também se ensina: práticas de ensino e apropriação do oral formal na escola pública
Bolsista: Francisco de Assis Trindade Ferreira
Escola: EE JULIA PASSARINHO
Título do Plano de Trabalho: Práticas de ensino do oral formal na escola: concepções, mitos e desafios.
Vigência da bolsa: 23/06/2008 a 23/06/2008
2. INTRODUÇÃO
A concepção interacionista de linguagem, desenvolvida nos últimos anos, pressupõe um ensino mais produtivo, tendo como objeto gêneros orais e escritos (PCN, 1998), Entretanto, a escola ainda sofre influências de uma concepção tradicional e restrita de linguagem, cuja primazia da escrita tem sido sua marca registrada. Nesse sentido, o trabalho proposto, pretende evidenciar a representação que professores do ensino médio, têm do oral, assim como suas concepções de ensino, mitos e condições para ensiná-lo, isto é, possíveis ensaios de elaboração e execução de seqüências didáticas com tais gêneros. Para tanto, serão aplicados questionários abertos e entrevistas semi-estruturadas, além de análise de documentos didáticos usados (livro didático, projeto pedagógico, plano de aula, etc.), tendo como foco, os sujeitos envolvidos no ensino-aprendizagem de português no ensino médio das escolas públicas de Cametá-Pa.
Nesse sentido o ineditismo do trabalho está em compreender, a partir de um estudo aplicado, o ensino do português nas escolas públicas como relação ao tratamento da comunicação formal pública, formalizada pelos gêneros orais formais como; o debate, a exposição oral, a entrevista e outros, como objetos de ensino na escola. O investimento em tais estudos são ainda justificáveis por outros fatores distintos, porém complementares como:
a) a grande tematização do oral formal no campo acadêmico-científico brasileiro mais recente, impulsionado pelo aparecimento de uma concepção de linguagem mais rica e dialógica. Nessa direção tal tematização tem como base estudos francófonos de Schneuwly & Dolz (2004) e;
b) pela normatização legal-oficial do oral formal como objeto de ensino de língua, despontado pela publicação dos PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS, no final dos anos 90, cuja maior inovação foi regulamentar os gêneros orais e escritos como objetos de ensino e os textos como unidades, a partir dos eixos da leitura/escuta, produção e análise lingüística.
3. OBJETIVOS
3.1. Geral
Evidenciar e teorizar sobre a representação que professores, alunos e coordenadores pedagógicos - do ensino médio das escolas públicas de Cametá-Pa - têm do oral e de seu ensino (objetivo parcialmente alcançado, uma vez que não foi possível, pela complexidade do tema e pela natureza da pesquisa e ainda pelo numero reduzido de bolsistas (1), analisar os discursos dos alunos e coordenadores pedagógicos, empreitado que pretendemos continuar no ano corrente).
3.2. Específicos
I) Diagnosticar o espaço do oral formal na escola pública (objetivo alcançado);
II) Compreender como as concepções, mitos, e condições dos sujeitos do processo ensino-aprendizagem podem influenciar no tratamento dos gêneros orais formais como objetos de ensino (objetivo alcançado);
III) Contribuir para o investimento em estudos aplicados tanto com relação aos problemas de ensino do oral formal, quanto para a formação de professores de língua (objetivo parcialmente alcançado, precisamos elaborar formas de intervenção concretas para redimensionar a concepção atual do oral e de seu ensino, como mostram nossos resultados).
4. METODOLOGIA
Leitura do referencial teórico-metodológico, elaboração e aplicação das entrevistas semi-estruturadas, transcrição grafemática e análise dos discursos dos professores sobre o oral e seu ensino. Os professores entrevistados (4) forma representados, por questões éticas, por P1;P2;P3 e P4.
5. RESULTADOS OBTIDOS
Nossos dados revelaram que a concepção de oralidade presente, nos discursos docentes, nas escolas pesquisadas é o oral como fala espontânea:
“então o oral a ser trabalhado é aquele que ele já traz de fora acho que vai ficar mais fácil pro aluno desenvolver o trabalho dentro da sala de aula”. (P3 3’13”)
“então é possível trabalhar a oralidade né mesmo porque fica mais fácil se o professor tiver consciência que é um fenômeno que o aluno traz de fora da sala de aula e o que a gente vai fazer e só desenvolver a oralidade dele na sala de aula é possível sim na hora que a gente pede pro aluno responder uma determinada pergunta, a gente envolve questões do dia-a-dia” (P3 5’32’’)
“você tem a oralidade no seu dia-a-dia então essa possibilidade é muito grande de mostrar pro aluno dentro da própria fala dele, as questões das variedades, as questões dos preconceitos lingüísticos, então se a gente fizer um bom trabalho a partir daquilo que o aluno produz, daquilo que ele fala da oralidade dele a dos demais a gente consegue produzir bons textos.” (P2 4’21’’)
“A gente pode tornar esse oral democratizando o ensino [...] dando ênfase e dando importância pra linguagem que ela já traz de casa e não criticando e nem menos pregando essa bagagem cultural que ele trás então primeiro nós temos a linguagem que o aluno traz de casa sua cultura e a partir daí ele vai se sentir mais a vontade, ele vai se sentir mais é propicio a se manifestar, a se expressar, sem ter vergonha da linguagem que ele faz.” (p1 2’32’’)
Como vimos os professores não conseguem fugir dessa imediatez em que nascem os gêneros primários e acabam por não conseguir trabalhar os gêneros orais formais por dois motivos:
a) por não ter clara a noção de gênero do discurso como objeto de ensino, embora essa noção já venha sendo discutida a mais ou menos dez anos com a publicação dos PCN, e, complementarmente,
b) pelo desconhecimento didático-pedagógico, em termos de modelização e sequenciação didática, na medida em que, se se toma oral para ensinar, os conteúdos ficariam de fora, como se observa nos trechos a seguir:
“é um desafio muito grande para o professor porque a gente vai ter que deixar o programa curricular, um pouco de lado pra poder trabalhar a oralidade” (P43’10’’)
“trabalhar a oralidade é possível através de um planejamento e se deixar aquilo que o conteúdo, o sistema nos dá, temos que trabalhar “x” e nós temos a questão dentro da língua portuguesa” (P32’11”)
“[...] então não dá pra trabalhar muito né a oralidade dessa maneira até porque o conteúdo programático de língua portuguesa de 5ª série e pede lá variação lingüística, os fenômenos lingüísticos, então aproveitando esse gancho daria pra trabalhar sim a oralidade não só em língua portuguesa mais em outras disciplinas [...]” (P35’28”).
Portanto, o redimensionamento da questão parece passar, necessariamente, pela formação continuada dos professores. Principalmente quando a questão é o ensino do oral, já que este nunca teve tradição no âmbito escolar em detrimento da escrita.
7. BIBLIOGRAFIA
BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: Estética da Criação Verbal [1952-3]. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
CHERVEL, Andre. A história das disciplinas escolares: reflexões sobre um campo de pesquisa. TEORIA & EDUCAÇÃO, nº 2, Porto Alegre, 1990.
GOMES-SANTOS, Sandoval Nonato. Gêneros como objeto de ensino: questões e tarefas para o ensino. PROGRAMA SALTO PARA O FUTURO. MEC, 2008.
GOULART, Cláudia. A prática do gênero oral na escola: uma abordagem etnográfica. Estudos Lingüísticos XXXIII P. 298-302, 2004
MARCUSCHI, L. Da fala para a escrita: Atividades de retextualização. SP: Cortez, 2001.
MOITA-LOPES, L. P. oficina de lingüística aplicada. Campinas-SP: mercado de letras, 2002.
PIETRO, J-F & SCHNEUWLY, B. O modelo didático do gênero: um conceito da engenharia didática. Revista MOARA, nº 26. Belém-Pa: CLA/UFPA, 2006.
ROJO, R.& SCHNEUWLY, B. As relações oral/escrita nos gêneros orais formais públicos: O caso da conferência acadêmica. Campinas: Unicamp, 2008a. (mimeo – circulação restrita).
ROJO, R. Os gêneros do discurso no circulo de Bakhtin – ferramentas para a analise transdisciplinar de enunciados em dispositivos e práticas didáticas. Campinas - SP: Unicamp, 2008b. (mimeo).
________________ & CORDEIRO, G. S. (orgs. trads). Gêneros Orais e Escritos na Escola. Campinas: Mercado de Letras, 2004.
SEF, Parâmetros Curriculares Nacionais – Língua Portuguesa. MEC, Brasília, 2001.
SOARES, Magda. A Escolarização da Literatura Infantil e Juvenil. In BRANDÃO, et alli. Escolarização da Leitura Literária. 2ª ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.
9. PRINCIPAIS PROBLEMAS E DIFICULDADES PARA A REALIZAÇÃO DAS ATIVIDADES
Apenas algumas dificuldade infra-estruturais como falta de um gravador profissional para a coleta dos dados e algumas vezes a não disponibilidade de PC conectado a internet para pesquisas e preenchimento de formulários na plataforma PIBICjr.
10. PARECER DO ORIENTADOR
Manifestação do orientador sobre o desenvolvimento das atividades do aluno
O aluno desenvolveu satisfatoriamente as atividades previstas no plano de trabalho.
Belém, 28 de julho de 2009
Prof. Ms Luís de Nazaré Viana Valente
ORIENTADOR
Francisco de Assis Trindade Ferreira
BOLSISTA
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