1. Primeiras ideias sobre ortografia
A nossa tradição escolar, baseada nos livros didáticos, nas gramáticas e dicionários, formou a ideia comum que as pessoas têm, segundo a qual a ortografia significa escrever as palavras da língua com a grafia correta. Algumas pessoas lembram a origem dessa palavra, dizendo que ela veio do grego e que, naquela língua, significa “escrita correta”. Embora não se saiba bem o que “escrita correta” signifique, a palavra ortografia ficou com o sentido tradicional de grafar as palavras com as “letras corretas” com que as pessoas escrevem a língua que usam. Como apoio para isso, apareceram os vocabulários ortográficos e os dicionários.
As questões problemáticas a respeito de saber “com que letras” se escrevem as palavras começam com a própria história da língua. Por exemplo, em português, já se escreveu a palavra “igreja” dos seguintes modos: jgreja, egleja, egleia, eglesa, eglesia, egreja, eigleja, eygleyga, eigleja, eigrega, eigreja, ergreja, ergueyja, greja, igreija, igreja, etc., (cf. Dicionário etimológico da língua portuguesa (1956), de José Pedro Machado). Aparentemente, aquela palavra não mudou muito em sua pronúncia, mas a percepção da fala e os recursos da escrita levaram as pessoas a escrevê-la de muitas maneiras, na história da língua. Um dos motivos pelos quais a grafia das palavras muda é porque mudou a pronúncia. Até o século XV, ainda se via escrito “estromento” para o latim instrumentum. Depois, voltou a pronúncia instrumento: mudando a pronúncia, a tendência da escrita é mudar o modo como a palavra é escrita.
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